Por Raimundo Silva
"Pourriture", era
o título do editorial de primeira página do L'Equipe, jornal de esportes
francês, sobre esse escândalo da Fifa. "Porcaria" seria a tradução
mais correta; "podridão", a mais adequada. Da porcaria algo ainda
pode ser resgatado: a história da FIFA está cheia de porcaria perdoada ou esquecida.
Da podridão nada se salva. Trata-se, esse pequeno texto, de um trecho extraído
da excelente coluna do O Globo de hoje, do nosso patrimônio intelectual, o
Veríssimo. Merece ser lida, até por algumas pertinentes perguntas que ele nos
faz, e boas para nossas reflexões. Para mim, nenhuma surpresa a prisão desse
arremedo de político e cartola, o nefando Marin. Aliás, talvez apenas uma: sua
prisão pelo FBI, quando há anos já se vem evidenciando algo de muito podre
naquele reino aqui e impune; aí sim, nenhuma surpresa quanto a isto por se
tratar de delitos praticados por gente "graúda" e de colarinho
"limpo". Esses escárnios já riem de nós, considerados por eles puros
e inocentes, há muito tempo. Lamento profundamente presenças tão nefastas
desses senhores no comando do mais lúdico de nossos esportes, o futebol. Além
de catalisador de sonhos de muitos "moleques" de pés no chão, que ao
dar seus primeiros chutes nos baldios campos de várzea, já sonham com os dias
de glórias e arquibancadas cheias aplaudindo as suas jogadas de rei Pelé e do
chapliniano Mané Garrincha. Evapora-se como se fosse vento o caráter mágico do
esporte: posso estar enganado, como portador de utopias que sou, mas sonhos e
mais sonhos são aniquilados em momentos como este. Fico pensando em como estes senhores
se olham nos espelho. Como ficam e fitam
os olhos de suas mulheres, de seus filhos e netos; e como fica o estado de
espírito dos familiares desse tal Del Nero, quando em pronunciamento transmitido
pela televisão o Romário brada com todas as letras tratar-se de um ladrão?
Comenta um amigo aqui do meu lado (no momento em que este texto era apenas uma
reflexão): "deve ser tudo igual a ele, filho de peixe peixinho é".
Não, não quero fazer este valor de juízo precipitado. Resta-me, então, um
sonho: de que um dia a Justiça em nosso país funcione, mas para todos e contra
todos, e não somente contra os pobres, como comumente tem sido. E que todos os
corruptos e corruptores, que veem nesse cancro um fim em si mesmo para suas
medíocres e patéticas existências, ao entrar nas prisões se vejam diante dessas
palavras da porta do inferno, reproduzidas pelo colunista de O Globo, Elio
Gaspari, na sua edição deste domingo: "deixa toda esperança, vós que
entrais".