Por Francisco Costa
Pretenso escritor, desde menino, mais não fiz que buscar a intimidade
com a linguagem, e aprendi que os adjetivos, mais que relativizarem os
substantivos, os jogam no anonimato. Se uso o substantivo mulher isso diz muito,
quase tudo, mas, se aponho o adjetivo fofoqueira a mulher some, transformada em
só um instrumento da fofoca, da maledicência, da indiscrição. O mesmo para o
adjetivo ladrão. Posto seguido de substantivos seja homem ou mulher, de cargo
eletivo ou não, funcionário público ou não, executivo ou peão, proleta ou
burguês, com toga ou sunga de praia... Irreleva tudo porque o eixo de tudo
passa a ser o atributo: LADRÃO! Quero um país novo e que faça sentido. Não faz
sentido que ladrões de milhões reduzam a maioridade penal para prenderem
ladrões de relógios de pulso e celulares. Não faz sentido que juízes
investigados por corrupção julguem corruptos. Não faz sentido que policiais
ladrões prendam ladrões... Onde a honestidade é medida em proporção inversa à
periculosidade: quando menor o roubo mais culpado o autor. Há ladrões no
governo? Cadeia! Há ladrões no judiciário? Cadeia! Há ladrões no legislativo?
Cadeia! Há ladrões nas estatais? Cadeia! O que não pode mais é vermos o
judiciário brasileiro aparelhado por golpistas ladrões, investigando e
prendendo ladrões, e mais: apondo o adjetivo ladrão nos opositores, ainda que
não sejam. O que não suporto mais é ver e fichas sujas avaliando sujeiras em
fichas alheias. O que não aguento mais é ver a justiça brasileira instrumentalizada,
transformada em ferramenta política no macabro concerto dos ladrões. Que
estranho país é esse onde todos os membros de um partido são ladrões e na
oposição não há um, pelo menos um, para atestar que na oposição há seres
humanos também? Como tudo isso acontece com um legislativo, mais que dando o
aval, colaborando? Como tudo isso acontece sem que alguma voz no judiciário se
levante? Pois que são cúmplices, e sendo cúmplices, que se aponha o adjetivo lá
também: ladrões! E quando um país racha, se divide entre ladrões, de maneira
generalizada e generalizante, de um lado, e dos que covardemente os sustenta, o
povo, ao povo só resta uma alternativa: fazer o que as instituições, canceradas
pela desonestidade, não conseguem mais fazer: justiça! A falta de decoro da
política brasileira foi longe demais, a hora é de irmos para as ruas, defender
a democracia e a decência, a liberdade e a moral. O preço da omissão é a
submissão, não podemos aceitar.
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