terça-feira, 16 de junho de 2015

Rebeldia e utopia




Por Wilma Martins Mendonça (Professora  da UFPB)

Conheci o educador José Renato Uchôa nos tempos em que a ditadura civil-militar, no Brasil e na América Latina, começava a ser afrontada pela coragem e firmeza dos trabalhadores. Entre nós, os metalúrgicos do ABCD paulista davam os primeiros passos, através de suas ousadas e expressivas greves que mostravam um intenso desacordo com os interesses dos capitalistas imperialistas e de seus lacaios nacionais. Os agricultores também retomavam a luta pela terra, muitos deles afiançando, com a própria vida, o sonho da Reforma Agrária, de um Brasil e de um mundo melhor. Nós, educadores paraibanos, inicialmente os da rede estadual e, posteriormente, os do sistema municipal e os do setor do ensino privado, não ficaríamos parados: seguíamos as pegadas dos companheiros do ABCD, com o mesmo arrojo e a mesma ousadia. Na Paraíba, os professores se uniam aos camponeses, aos trabalhadores da construção civil, aos têxteis, aos companheiros bancários, aos garis, entre outros trabalhadores e excluídos de cidadania. Eram tempos de união, de rebeldia, de utopias e de sonhos coletivos. Em nossa agenda, à luta pela soberania nacional se somava ao firme desejo de felicidade humana e de paz social, em nosso país. Reivindicávamos, também, o respeito pelas mulheres, pelos indígenas, pelos negros e por todos aqueles e aquelas que, sexualmente, divergiam do padrão único da heterossexualidade. Começávamos a trilhar o longo e difícil caminho da conquista dos direitos e das liberdades humanas. Nessa diversidade, que representava a nossa própria feição, a lua prateava os nossos intermináveis debates e o sol iluminava as nossas recorrentes marchas e passeatas, motivadas pelas paralisações de nossas atividades de ensino. Enfrentávamos, com destemor, a força bruta dos cassetetes, das perseguições e das demissões. Nesse contexto, se moveu José Renato Uchoa, uma de nossas grandes lideranças à época. E é com prazer que vejo que o passar do tempo não lhe desestimulou, nem tampouco lhe arrefeceu, o compromisso com a libertação, a paz e a alegria do povo brasileiro. O Reflexo no Espelho é o reflexo da luta de todos nós na construção de um país democrático.


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